quarta-feira, 25 de julho de 2012
quinta-feira, 12 de julho de 2012
outro conto - meu tambem
O
Pequeno Conto de um Grande Gigante
Talbor gostava de ser um gigante.
Morava em um grande castelo nas
nuvens e lá tinha tudo o que precisava. Mas seu apetite era de gigante também.
Como todos sabem o “apetite” de um gigante não se refere à comida. Logicamente
um gigante come quantidades enormes de comida, mas existem diversos casos de
gigantes magros, anêmicos, vegetarianos, enfim, nem todos os gigantes são
gordões esfomeados.
O
que Talbor tinha não era fome. Seus criados, inúmeras e pequeninas pessoas,
viravam-se do avesso para garantir que Talbor estivesse sempre alimentado. Eles
achavam que o gigante poderia resolver comê-las se não fizessem isso. Ignoravam
o fato de Talbor possuir uma grande aversão por carne humana. Ele dizia sempre
que os ‘ossinhos’ o incomodavam.
Talbor
tinha apetite de gritos. Como todo bom gigante, adorava ouvir as pessoinhas
gritando aterrorizadas enquanto ele destruía suas casas, esmagava suas
plantações e arrancava árvores inteiras do chão, só para logo em seguida
arremessá-las o mais longe que pudesse, de preferência em algum tipo de
construção.
Assim,
todos os dias, Talbor saia de seu castelo para aterrorizar os povoados mais
próximos. Ia cada vez mais longe, acompanhando a migração das pessoas que
eventualmente se cansavam de ter que reconstruir suas casas. Um dia, porém,
Talbor viu em sua busca por novos povoados uma gigantesca floresta. As árvores
eram incrivelmente grandes e largas, bem maiores que ele, gigantescos pinheiros
que pareciam tocar os céus. Julgou se tratarem de uma espécie de árvores que
lera em um livro, mas cujo nome não lembrava. Corajoso como todo bom gigante
acaba por se tornar com o tempo, Talbor não hesitou e com passadas largas de
gigante, invadiu aquela enorme floresta.
Quando
já estava se cansando de andar, Talbor viu em sua frente uma enorme porta. Ele
nunca havia visto algo assim. A porta era várias vezes maior que ele, e
preenchia toda sua visão. Julgou que era maior que uma montanha inteira, vezes
maior que seu castelo, e que apenas a maçaneta era do tamanho de sua banheira.
Começou a andar ao redor da porta e percebeu que ela era a entrada de uma casa
gigantesca, até mesmo para ele, um gigante. A casa era simples, mas colossal, e
com um estrondo, a porta se abriu.
De
dentro da casa, um ser absurdamente grande emergiu. Vestia roupas simples e seu
cabelo e barbas estavam sujos e bagunçados. Carregava no ombro a maior
espingarda que Talbor já vira na vida. O ser monstruoso logo viu o pequeno
gigante na soleira de sua porta e direcionou para ele um olhar curioso. “É o
fim” pensou Talbor. Se uma pessoa se colocasse em seu caminho enquanto ele
estivesse de saída para caçar, certamente ele a mataria pela insolência.
O
homenzarrão continuou ali, a encará-lo, e Talbor não aguentou mais: "Vamos
seu pedaço enorme de esterco! Acabe logo com isso! Eu sou Talbor o gigante e
não tem nada no mundo todo que eu tenha medo!”. O enorme caçador pulou para
trás de susto. Se abaixou e colocou o enorme rosto bem perto de Talbor, que
podia sentir o fedor absurdo de seu bafo saindo do nariz do caçador. “Olá. Você
parece bem pequeno para um gigante” disse o caçador. “Meu nome é Billiard, mas
me chamam de Pequeno Bill. Eu estava indo caçar, quer ir junto?”. A voz soou
como uma tempestade para o pequeno Talbor, que quase foi jogado para trás.
E
então Talbor viu a coisa mais feia de toda sua grande vida. A carona do caçador
se contorceu e apenas após vários segundos Talbor percebeu o que estava
acontecendo: Pequeno Bill sorria.
Os
dias se passaram e a amizade dos cresceu. Billiard levava Talbor para conhecer
o mundo atrás daquela grande floresta. Era colossal. Tudo era incrivelmente
grande e Talbor, em comparação, incrivelmente minúsculo. Pequeno Bill era de
fato alguém miúdo. Perto dos outros homens daquele lugar, era uma criatura
franzina, que batia no ombro até mesmo das mulheres. Todos olhavam com
curiosidade para Talbor, mas o menosprezavam pelo seu tamanho insignificante.
Quando
estavam sozinhos, Talbor e Bill conversavam bastante. Talbor contava sobre seus
feitos de gigante, sobre sua grandeza, seu poder. E ouvia logo em seguida, não
sem constrangimento, as histórias de Bill: sobre como ele era maltratado desde
garoto, não conseguia uma boa esposa, sempre perdia nos jogos e nas corridas.
Porém, Bill era um grande caçador: o melhor do vilarejo. E, por isso, era
respeitado. Ainda não conseguira se casar, e os outros ainda o olhavam com
certo menosprezo. Mas pagavam bem pelas suas caças e assim ele ia vivendo.
Agora que tinha um amigo, estava muito feliz, e dizia a Talbor para que ele
nunca fosse embora.
Porém,
como vocês já sabem, Talbor era um gigante, e gigantes tem um apetite de
gigante. Naquela terra, Talbor não era nada, um minúsculo pedaço de nada.
Ninguém nunca gritaria para ele lá, e por mais que gostasse de Bill, seu
apetite ia crescendo e crescendo.
Resolveu
então fugir. Logicamente poderia ter conversado com Bill, mas e se ele não
quisesse deixa-lo ir embora? Ele nunca conseguiria se opor a alguém tão maior
que ele. Fugiu na calada da noite, quando julgou que a tempestade de roncos de
Bill estava forte e regular o suficiente. Voltou para seu castelo e encontrou
diversas novas vilas por perto para poder atormentar e suprir seu apetite de
gritos.
As
estações passaram e já era primavera quando ele ouviu um grande tremor. Então
um trovão. E de novo. Dessa vez parecia que o trovão chamava seu nome. Seus
criados se encolheram e cobriram os ouvidos. Ao olhar pela janela Talbor viu. O
colossal Pequeno Bill cobria quase que todo o horizonte, e vinha determinado em
direção ao castelo, que era claramente a maior de todas as construções ali. Os
muros e paredes caíram com facilidade com os golpes de Bill. Os criados
morreram os se enfiaram em buracos minúsculos, mas Talbor não teve escapatória.
Bill o levantou dos escombros do castelo e olhou-o furioso enquanto o segurava
bem perto de seu nariz. “Você me abandonou!” disse o colosso de coração partido
“Era meu único amigo e me abandonou. Pois bem, agora você vem comigo.”.
Bill prestava bastante atenção.
Prestava bastante atenção nas conversas que tinha com Talbor e prestava
bastante atenção nos outros homens de sua vila. Prestava atenção quando eles
comentavam da fome que sentiam e pareciam nunca saciar, não importava o quanto
comessem. Então Bill teve uma ideia.
Talbor
agora morava em uma aldeia, com outros gigantes, todos do seu tamanho. Tudo a
sua volta era proporcional a ele, e ele vivia uma vida comum. Exceto quando
eles vinham. Vez ou outra, um enorme gigante assolava sua modesta aldeia. Vinha
do nada, girando uma clava enorme e destruía todas as casas. Pisava nas
plantações e arrancava árvores inteiras com facilidade. Então ele ia embora,
com um sorriso no rosto, e deixava para trás Talbor e os demais da aldeia,
chorosos e com as gargantas doendo de tanto gritarem. E eles tinham que
construir tudo de novo.
Billiard
fora um caçador. O melhor de todos. Responsável por descobrir as pessoas
minúsculas. Agora era um grande empresário. Idealizador e responsável pelo mais
importante setor de entretenimento do mundo.
Vivia
bem em sua mansão.
Tinha
cinco mulheres.
Todos
abaixavam as suas cabeças para falar com ele.
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