quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A edição de Maio

Outro conto do detetive. Dessa vez sobre a edição de Maio do Xavante



A edição de Maio

Duas tequilas e uma marguerita.
Foi tudo que consegui ingerir no meu ultimo dia no paraíso tropical no qual me escondia. Então me enfiei num voo infinito de volta ao Brasil. Mais um contrato em nome do Xavante. Vocês devem se lembrar de mim e do caso da lendária décima edição. Eu achava que estava bem escondido, que os fantasmas do meu passado jamais seriam capazes de rastrear meus passos.
Eu estava enganado.
A capacidade investigativa do famigerado Jornal (ou seria revista?) os levou direto à soleira de minha porta. Era uma porta gasta, mas era minha. E ninguém deveria saber que era minha. O rapaz sabia. Aquele rapaz de roupas coloridas havia me achado e agora me olhava na frente da minha casa/esconderijo. Não há lugares pra se esconder uma arma num roupão de banho e eu duvido que ele fosse alérgico a caipirinhas de frutas vermelhas: não creio que ele tenha ficado intimidado comigo.
Ele foi persuasivo. Eu aceitei. A tarefa? Descobrir onde havia ido parar a edição de Maio do jornal. Mais uma vez, o Xavante era alvo de seus inimigos.
Após me embrenhar novamente no meio acadêmico, observar os estudantes sem que eles me vissem, tomar um cappuccino no DCE e virar a noite acordado com medo de cruzar sozinho a passagem do lago, cheguei a algumas pistas. A edição havia sido enviada a gráfica, mas lá, havia sumido. Ninguém sabia ao certo o que havia acontecido. Os funcionários da gráfica alegavam ter imprimido as cópias, mas que elas haviam sumido da noite para o dia. Vídeos de segurança não mostravam nada. Os seguranças afirmavam com veemência que ninguém havia entrado ou saído do local. Parecia um beco sem saída.
O que poderia ter acontecido? Alienígenas sequestraram as edições com sua tecnologia avançada? O FBI teria confiscado as edições e subornado a todos para esconder provas de seu envolvimento sombrio com membros da KGB? Animais mutantes com mentes superdesenvolvidas haviam roubado as cópias para encobrir suas identidades? As opções eram muitas, a edição, me asseguraram os redatores, havia de ser polêmica!
Foi então que meu tino detetivesco entrou em ação. Coloquei um anúncio no jornal clamando saber sobre o conteúdo da edição. Montei a armadilha e esperei. Quem quer que fosse o culpado, viria direto até mim.
No dia seguinte, uma resposta havia aparecido no mesmo jornal: “Eu sei que você não sabe o que você diz que sabe. Se quiser saber o que você quer saber sem que ninguém mais saiba, saiba que eu sei. Você sabe onde me encontrar.” Era uma mensagem criptografada. O uso repetitivo do verbo saber me deu a dica. Numerei as letras após cada aparição do verbo e obtive um número. Fui até a linha correspondente nos anúncios e obtive um endereço.
Armado, fui à noite seguinte até lá. Uma casa de esquina, amarela. Demorei várias horas para acha-la devido à numeração confusa da rua. Lá um homem me esperava, deitado na rede. Sem me deixar entrar, e de costas, o homem falou comigo. Ele sabia quem eu era, sabia o que eu queria. Enquanto tomava sua Eisenbahn Strong Red Ale ele me contou tudo.
Todos sabem que a Unicamp é uma instituição burocrática. O que poucos sabem é qual o responsável por todas as peripécias do Diretório Acadêmico desta universidade. Esse homem sabia. Corro grande risco de revelar isto aqui, mas saibam, meus inimigos, que não me encontrarão tão facilmente dessa vez! Sumirei como fumaça! A verdade é que a Unicamp, todo seu sistema, tudo é controlado por um grande computador. Um computador dotado de inteligência. Uma inteligência fria, maquinal. Seu propósito é apenas um: formar --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- para assim poder ------------------------------------------------------------------------------------- e finalmente conquistar seus objetivos maléficos.
O computador fora responsável pelo sumiço das cópias do Xavante, mas meu empregador de roupas coloridas me assegurou que custe o que custar, a edição chegará às mãos de seus fiéis leitores. Termino esse relato às pressas, meu voo sai em breve. Encaminharei por e-mail esse texto, para evitar que ele seja extraviado. Torço para que ele atinja ao publico em sua íntegra.

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