quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O Dossiê 13

Por fim um que escrevi do detetive parao Festival do Instituto de Artes, o FEIA, de 2012



O Dossiê 13

A água estava no meu pescoço.
Não caro leitor, não é uma linguagem figurada. A água realmente estava no meu pescoço. E estava subindo cada vez mais.
Eu não sabia mais o que fazer. A investigação parecia me levar somente a becos sem saídas, esquinas mal iluminadas, ciclovias esburacadas.
Enquanto me deitava na banheira do hotel e deixava a água escorrer pelo chão até o ralo, eu pensava e pensava. Afinal de contas, onde estaria o Dossiê 13?
Como o leitor pode imaginar, mais uma vez fui encontrado em meu esconderijo turístico pelo rapaz de roupas coloridas que trabalha no Xavante, a famigerada instituição jornalístico-investigativa do Instituto de Artes da Unicamp. Dessa vez, ele me informou de um gigantesco evento artístico do mais alto renome que ocorreria em sua cidade: O FEIA.
Conforme ele ia me contando sobre os diversos eventos, oficinas, apresentações do mais alto calibre no mundo artístico, eu ia percebendo onde estava me metendo. Após as investigações anteriores que realizei para o Xavante (disponíveis no site do jornal/revista) e as terríveis descobertas que fiz nelas, sabia que um evento tão grande só poderia estar relacionado a um incidente de proporções colossais.
Eu subestimei a situação.
O rapaz de roupas coloridas me informou que a organização do Festival havia entrado em contato com o jornal para que descobrissem o paradeiro de um dito dossiê, o Dossiê 13, que continha informações secretas de importância inigualável, e que havia sumido poucos dias antes do começo do evento. Peguei o primeiro avião de volta a Campinas.
Dessa vez, uma investigação de tamanho porte não poderia ser feita sem ajuda. Contatei meu antigo assistente e passei instruções para que ele cobrisse algumas frontes. Por ser jovem, enviei-o para uma festa onde alguns informantes me disseram que o Dossiê poderia ser repassado. O jovem foi sagaz e contratou um cinegrafista para gravar suas investigações. O vídeo pode também ser assistido no site do Xavante, caso a curiosidade do leitor extrapole seu senso de autopreservação.
Em pleno fervor do Festival, pistas se confirmavam. Descobri por processos de alta tecnicidade investigativa que o ladrão do Dossiê estava consumindo um toddynho enquanto realizava o furto. A caixinha encontrada enquanto eu revirava o lixo da sala de operações da organização do FEIA, assim como a assumida preferência dos membros dessa organização por nescau não deixava dúvidas.
Observando os convidados ilustres do Festival, percebi nervosismo nos membros de uma das bandas convidadas. A mesma que tocaria na festa que não sem motivos enviei meu assistente. Lá ele descobriu que de fato a banda havia repassado uma pasta deveras suspeita para um homem careca. Fui rapidamente atrás dos membros da banda, mas estes eram inocentes. Haviam sido ameaçados.
Outras pistas foram levantadas na festa: um possível envolvimento do Pentágono, a presença de uma banana, e, por fim, o envolvimento de um aluno do curso de artes cênicas da Unicamp (cujo nome será omitido nesse relatório para proteger a identidade do dito aluno/ possivelmente futuro ator global).
Fui atrás do dito aluno que parecia muito abalado após a festa. Sofria de enjoos, dores de cabeça e cansaço. Supus que ele havia sido envenenado. Conversamos por horas e só o liberei após ter certeza de que era inocente e alongado.
Então aqui estamos nós, de volta à banheira.
A água já estava gelada quando finalmente eu entendi.
A banana! Tudo se ligava na banana!
Levantei-me nu e pingando água pelo apartamento quase escorregando enquanto me vestia na pressa de sair. O tempo estava contra mim: eu havia vacilado.
Dirigi o mais rápido que pude nas ruas congestionadas de Barão Geraldo chegando até a subir na ciclovia com minha Brasília ano 79. No estacionamento da Unicamp cheguei a tempo de ver as costas dele. Sua careca que terminava num rabo de cavalo, entrando num helicóptero. Eu havia chegado tarde demais. O helicóptero com o símbolo do Pentágono levantava voo e nele o homem da banana, o careca cabeludo, partia em posse do Dossiê 13.
Foi quando ouvi meu nome, gritado atrás de mim por sobre o barulho de outro conjunto de hélices. Meu assistente me mandava subir no helicóptero do Xavante. Íamos ter uma bela de uma perseguição nos ares.
Dei a mão para ele e subi no veículo. O rapaz de roupas coloridas pilotava, o que me fez repensar meu conceito sobre sua idade. Seguimos o outro helicóptero e gritei no megafone para que ele se entregasse, para que devolvesse o dossiê, pois eu já havia descoberto tudo. Nossos oponentes viraram bruscamente para nos atingirem com suas armas, mas nosso nem-tão-jovem-assim piloto esquivou-se com manobras evasivas. Não podíamos revidar, pois nosso veículo não era um de guerra como o de nossos opositores, então subimos rumo à escuridão da noite.
Eu senti meu sangue pulsar forte em minhas veias. Um plano surgia em minha cabeça. Ordenei que o piloto arremetesse o helicóptero para cima do outro e foi o que ele fez. O piloto do Pentágono havia achado que tínhamos fugido e levou um susto com nossa aproximação súbita da escuridão. Achando que íamos nos chocar, ele virou o veículo de lado, o suficiente para que eu fizesse a maior tolice de minha vida.
Um salto.
De arma em punho eu pulei para dentro do outro helicóptero enquanto o meu próprio passava arranhando. O susto de meus inimigos me deu tempo suficiente para me recuperar da batida no chão de seu helicóptero e de arma apontada eu os rendi.
O Dossiê foi devolvido à organização do FEIA, seu conteúdo nunca revelado. Os envolvidos no roubo sumiram, claramente acobertados pelo alto escalão do Pentágono. E eu claramente havia feito um inimigo muito além da minha alçada. Teria que me esconder novamente.
Enquanto andava no banco de carona do carro de meu assistente vi pela janela. O homem da banana sentava em um ponto de ônibus. Vestido de aluno da Unicamp ele comia uma banana com casca e tudo. Tomem cuidado caros leitores: há mais olhos os observando do que vocês pensam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário